"Numa conversa telefónica em 2009, Paulo Portas diz que
contrato de compra dos submarinos tinha de estar no Ministério da Defesa
Os
alemães do German Submarine Consortium (GSC) – o consórcio que contratualizou a
venda de dois submarinos ao Estado português em 2004 – tinham receio de fazer
pagamentos a uma offshore porque isso poderia trazer problemas com as entidades
fiscais alemãs. A mensagem de preocupação dos alemães foi passada à ESCOM – a
empresa do Grupo Espírito Santo que fez a sua assessoria na negociação das
contrapartidas e que terá criado a offshore – pelo advogado português que
estava em contacto com o GSC.
“A
1 de Abril de 2003, a ESCOM recebe uma mensagem (...) indicando que os alemães
estavam com algumas reservas em efectuar pagamentos para uma empresa offshore,
uma vez que esse pagamento poderia não ser aceite pelas entidades fiscais
alemães”, lê-se numa cronologia que consta do processo agora arquivado pelo
DCIAP em que era arguido o advogado Bernardo Ayala, e que o i consultou. Para
convencer os alemães, a ESCOM terá, através do seu advogado, apresentado “uma
explicação sobre o Grupo Espírito Santo e as relações entre as várias empresas
do grupo”. Meses antes, a 21 de Janeiro, a ESCOM terá assinado um acordo com o
Feltree Investment Fund: “caso vencesse o concurso dos submarinos”, diz o
processo, cederia créditos ao Feltree Fund “num valor entre os 13 e os 20
milhões de euros”. O DCIAP enviou cartas rogatórias, ainda sem resposta, a
pedir para serem desbloqueadas no estrangeiro contas bancárias que poderão
explicar se houve ou não subornos no negócio. Uma das suspeitas do Ministério
Público é de que um pagamento de 30 milhões feito pelo GSC à ESCOM “tenha sido
utilizado para pagamentos indevidos e como contrapartidas a decisores políticos
e a grupos políticos envolvidos nas negociações”, conforme o “DN” adiantou
ontem.
Portas
“nervoso” com escutas
As
conversas interceptadas e que foram transcritas para o processo mostram que, em
2009, Paulo Portas desconfiava que estava sob escuta e andava tão obcecado que
até as secretárias tinham ordens para fazer e passar determinadas chamadas
apenas para o fixo. Pedro Brandão Rodrigues, ex-presidente da Comissão de
Contrapartidas, chegou a aplicar os adjectivos “nervoso” e “maluco” para falar
desta obsessão de Portas. Em Outubro de 2009, Portas chegou a dizer-lhe que
agora tinha percebido que um dos dois estava sob escuta, porque na tentativa de
ligação anterior tinha dado sinal de interrompido. Brandão Rodrigues teve de
explicar-lhe que isso acontece sempre que duas pessoas tentam ligar uma para a
outra ao mesmo tempo.
A
29 de Setembro, na sequência de uma notícia sobre as buscas aos escritórios de
advogados, quer o ministro quer Pedro Brandão Rodrigues manifestaram a certeza
de que o contrato de compra dos submarinos deveria estar no ministério, “nos
arquivos do Estado”. “Basta pedirem ao ministério, não?”, questionava Portas.
No despacho de arquivamento do inquérito redigido em Agosto deste ano, o
procurador do DCIAP alega que documentos relacionados com os contratos
desapareceram do Ministério da Defesa."
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